Tudo começou com um amigo enchendo-me o saco para pedalar com ele e seu grupo.Para ficar livre, comprei uma bike bem básica. Cheguei ao trabalho e fui logo dizendo para os colegas que comprei um plano de saúde em seis vezes. Aqueles mais espertos logo viram que plano de saúde paga-se mensalmente e não em seis vezes. Então me inquiriram sobre o assunto. Aí eu disse: o que vocês têm é plano de doença, eu comprei uma bike para ter saúde.
Comecei a pedalar com o grupo nos finais de semana. Levei muitas quedas até acostumar com o pedal de encaixe. Depois de dois meses pedalando, meu amigo me convidou para fazer o pedal “caminho das pontes”, de 200 km, trecho de estrada de terra que liga Formosa-Go a Alto Paraíso-Go. Aceitei o convite e, em um dos sábado de agosto de 2004 partimos para o pedal. Eu mal sabia que no primeiro dia seriam 140 km – estrada com costela de vaca e tudo mais.
Lá pelo final do dia eu já estava nas últimas. Parava com muita frequência e me alongava colocando as mãos no top tube da bike procurando arrancar força da alma.
Um rapaz que estava no grupo, por misericórdia, passou a me acompanhar de perto. “Seu Hélio deixe-me lhe puxar com uma corda?”. E eu respondi: vou chegar pelas próprias forças.
Às 20h chegamos à Forte, uma vila no meio do caminho, exausto, a ponto de quase não conseguir comer. No outro dia foram 60 km de estrada com subidas. Não zerei nenhuma, mesmo assim, consegui terminar o percurso e, com vida.
Minha primeira competição foi um percurso de 70 km de Ceilândia. Eu era tão sem noção da vida ciclística que, no ponto de apoio, meus filhos me esperavam com comida – pães e doces. Desci da bike e comi com muita rapidez. Enquanto isso, atletas passavam por mim. Não sabia que era possível me alimentar pedalando. Cheguei em enésimo lugar.
Primeira prova importante fora de casa foi em Araxá, por volta de 2006. O circuito estava seco e com muito pó dentro da mata. No primeiro drop de descida importante – ele está lá até hoje – eu caí de boca no pó todas as vezes que passei por lá. Cheguei a mudar de cor. Somente os olhos e os dentes ficaram na cor natural. Tenho uma foto de chegada com o Rogério olhando espantado para aquela coisa lambuzada.
O amor pela bike me fez caminhar para mais longe. Descobri o prazer da auto-superação. Descobri que a idade é relativa demais para ser considerada. Minha cabeça não tem mais que 26 anos de idade apesar da identidade dizer que tenho 62.
Desde muito tempo, e hoje, com muito mais ênfase, tenho como objetivo passar à sociedade a mensagem de que idade é relativa, e que, ainda tendo aparência de velho, a gente é capaz de ir muito longe.
Quando foi que eu imaginei que seria medalha de ouro no mundial de máster? Jamais! Nem em sonho ou num pensamento mirabolante. Mas consegui, pelo trabalho constante e persistente de treino, alimentação e descanso.
Desejo com essa história de vencedor, tirar as pessoas da fila do pronto-socorro e levá-las para a fila do pódio. Fazê-las entender que é melhor investir em bike (saúde) do que gastar com médico e remédio. A vida de atleta é muito mais alegre do que a vida de paciente de médico.
Importante: o título e o texto foram redigidos pelo atleta Hélio Vilela.