Lendas CIMTB Michelin: Roberta Stopa

Por Pedro Parisi, de Belo Horizonte

Ser campeã nacional de qualquer modalidade do mountain bike já é motivo para se tornar uma lenda. Mas usar a camisa de melhor brasileira no cross-country, maratona e downhill, é um feito que apenas duas mulheres conquistaram na história do país, e uma delas é Roberta Stopa, a convidada desta edição da série Lendas CIMTB Michelin.

A coleção de resultados de Roberta não ficou restrita ao território nacional. Foram três medalhas de bronze em Panamericanos, sete top 10, duas participações em Copas do Mundo de XCO e quatro em mundiais. Um currículo desses só pode ser conseguido por alguém muito apaixonada pelo que faz.

“A primeira vez que eu me interessei por uma bicicleta foi na sala de aula, em 1994. Eu tinha 14 anos e vi o Márcio Ravelli numa mountain bike na capa do caderno de um amigo. Era a junção de speed com bicicross. Eu achei aquilo genial”, conta Roberta. Ela lembra que foi com os colegas a uma competição de MTB em Juiz de Fora, sua cidade natal, para conhecer melhor o esporte. “Eu pensei na hora ‘eu quero fazer esse negócio aí’”, ri.

Com bicicletas emprestadas no início, ela começou a pedalar na região até participar da primeira competição, e chegar em segundo lugar, com direito a prêmio em dinheiro. “Eu pensei que era uma ótima oportunidade para fazer algo que eu adorava e ainda poderia ganhar dinheiro com isso”, conta.

Em 1995, ela faria 15 anos, e a família planejava uma festa de comemoração, como era o costume da época. Mas Roberta já enxergava seu futuro no mountain bike, e contra as tradições pediu que a festa fosse substituída por uma bicicleta profissional. “Eu tive que convencer meu pai para que ele convencesse minha mãe a fazer essa troca”, lembra Roberta.

Os resultados já apareceram no ano seguinte, quando foi campeã mineira de downhill e XCO. Em 1997, ainda na categoria Júnior, correu o campeonato mundial de XCO em Châteaux D’Oex, na Suíça, com um 15º lugar muito expressivo.

A partir de 1998, Roberta foi contratada por uma equipe profissional, com patrocínio e um salário. Isso trouxe mais responsabilidade e objetivos mais claros, combinação que resultou em muitos títulos de lá para cá, incluindo a vitória na classificação geral da CIMTB Michelin em 2011.

Roberta Stopa e Rubens Donizete comemoram o título brasileiro de mountain bike XCO em 2012

Com toda essa experiência, Roberta completou um ciclo em 2020, quando fez 40 anos e realizou a transição para a categoria Master. “Corri profissionalmente como atleta de elite até 2019, quando completei 25 anos de carreira. Eu coloquei na minha cabeça que quando eu fizesse 40 anos, eu ia para a master para conquistar algumas coisas que eu ainda não tenho”, avalia. Atualmente ela é a líder da temporada 2020 da CIMTB Michelin na Master e pretende buscar pelo ouro no Panamericano e Mundial.

Ela explica que a mudança traz uma certa liberdade para o atleta, é um peso a menos na hora de competir. “É muito interessante porque ao mesmo tempo, você nunca perde aquela chama de atleta profissional, aquela vontade de buscar por novos títulos nunca acaba”, conta Roberta, que participou de uma competição recentemente, conta que a idade nem sempre atrapalha o rendimento. “Corri mais livremente e andei melhor que quando eu estava na elite, meus números têm melhorado e estou muito, mas muito próxima da minha performance na elite”, compara.

Segundo Rogério Bernardes, organizador da CIMTB Michelin, “ver a Roberta alinhando novamente no evento trouxe muitas lembranças boas. Ela sempre foi excelente atleta e muito competitiva. Lembro quando ela ganhou uma passagem ida e volta para a Copa do Mundo no Canadá e EUA como prêmio pela vitória no XCC (short track) anos atrás em Araxá”. 

Mulheres no futuro do MTB

Olhando para trás, a reflexão é a de que o contexto do mountain bike em geral cresceu muito no país, e sobretudo para as mulheres. “Comparando com os anos 2000, a gente não tinha estrutura. Às vezes largava eu e mais três mulheres. Essa distorção acaba acontecendo por falta de investimento”, comenta.

Ela lembra que só passou a treinar com um treinador profissional em 1997, ano em que correu o mundial pela primeira vez. “Naquela época ainda não tinha muito isso, e a maioria das atletas fazia várias modalidades”, explica Roberta.

Mas, segundo ela, as coisas têm mudado. “Hoje eu vejo que isso está completamente diferente. Existem equipes nacionais investindo no esporte e nas mulheres. Outra questão foi a divisão de categorias femininas, que deu ânimo pra muitas começarem a competir”, diz. Porém, mesmo com a evolução, Roberta acredita que ainda é preciso melhorar e investir no intercâmbio.

Mesmo com esse aumento, ela avalia que ainda são poucas mulheres competindo no Brasil, o que não deve demorar a mudar. Como treinadora e personal biker, ela percebeu uma tendência durante a pandemia. “É impressionante como cresceu o número de mulheres pedalando. A busca foi imensa no último ano. Acho que a gente só precisava de uma oportunidade. Eu acho que a partir do momento que tiver a primeira prova de mountain bike sem riscos, vai explodir a categoria feminina”, prevê.

“Com o novo formato de provas da CIMTB Michelin a ideia é continuar abrindo cada vez mais espaço para as mulheres. Tem a parte competitiva com foco no XCO mas uma competição que é a Copa Sense CIMTB de Maratona com foco nas iniciantes e amadoras. A expectativa é ver as mulheres invadindo as pistas por todo lado. Inclusive, a partir deste ano, a largada da categoria feminina será separada da masculina, uma demanda do público feminino que conseguimos atender”, completa Rogério Bernardes.