Lendas CIMTB Michelin: Karen Olímpio

Por Pedro  Parisi, de Belo Horizonte

Apesar de ser considerado um esporte individual, é impossível se tornar campeã da Copa Internacional Michelin de Mountain Bike (CIMTB Michelin) sem uma rede de suporte familiar por trás. Karen Olímpio alcançou o patamar de Lenda da CIMTB Michelin quando venceu a classificação geral da temporada 2020 com uma garra desenvolvida após muita luta junto da família Olímpio. Como ela mesma diz: “Ninguém chega a lugar nenhum sozinha”.

Essa humildade e a tradição da bicicleta entre os Olímpio começou com o pai de Karen, José Eudóxio Olímpio, que é apaixonado por mountain bike desde os anos 90. Ele sempre incentivou os filhos a terem contato com o esporte. “Eu me lembro que íamos eu, meu pai e meus irmãos de bike para as cachoeiras da região de Caxambu. Eu era tão pequena na época, que tinha que ir na garupa algumas vezes para a casa da minha avó, enquanto meus irmãos já iam pedalando”, conta ela.

Hoje quem é a mais forte da família é Karen, a caçula de outros três irmãos, os também ciclistas Kelly, Priscila e Carlos Alberto, que hoje correm pela equipe familiar Olímpio Racing Team. Eles foram criados pelo pai e pela mãe, a dona Lúcia, em Caxambu, um lugar propício para o mountain bike.

As competições de MTB não demoraram a aparecer na vida de Karen. Em 2007 foi sua primeira corrida, ainda na categoria Mirim, na região onde morava na época. “Quando não tinha categoria feminina, eu corria na masculina mesmo”, lembrou, completando que fez uma pausa nas competições de bicicleta até ficar um pouco mais experiente.

Em 2012, com 14 anos, ela retornou às competições na pista de Araxá, na primeira etapa da CIMTB Michelin daquela temporada. “Nessa época eu ainda ficava muito nervosa antes das competições, e isso me atrapalhava na alimentação. Então muitas vezes eu corria de estômago vazio e passava mal nas provas. Mas isso nunca me impediu de continuar pedalando até o limite”, conta.

Ela lembra que conheceu o namorado, Rodrigo Silva nessa época, quando ele presenciou um episódio tragicômico. “Eu me lembro bem do Pan-Americano de 2014, em Barbacena, quando, no final da segunda volta, eu cheguei no meu limite comecei a delirar em cima da bicicleta. Eu caí e bati a cabeça, o que piorou a situação. Fui socorrida pelo Corpo de Bombeiros, enquanto o Rodrigo subia o morro correndo para me ajudar. Eles me colocaram em uma maca e eu tive que ser atendida na ambulância, ainda delirando”, conta entre algumas risadas.

Mas a experiência de muitas corridas vencidas e perdidas, muitas vezes com um apoio financeiro precário, com ajuda das prefeituras e pequenas empresas locais, ela e a família Olímpio criaram uma casca emocional muito grossa. A consequência foi que a atleta começou a ter resultados expressivos a partir de 2013, agora na categoria Juvenil.

Os patrocínios e apoios em geral eram escassos nesse período, sobretudo para as categorias femininas. Mas, com ótimos resultados, Karen conseguiu um patrocínio com uma marca brasileira que durou até 2018. Foram anos muito prolíficos na carreira de Karen, com três títulos brasileiros na sub-23, uma vitória no Desafio da Ladeira em 2017, em Congonhas, um campeonato sub-23 na CIMTB Michelin também em 2017, e uma vice-colocação na elite do Campeonato Brasileiro de Maratona.

Com esses resultados, em 2018, Karen estava no topo do ranking brasileiro de sua categoria, e foi,  convidada pela Union Cycliste Internacionale (UCI), em 2019, para treinar durante alguns meses na Suíça junto com atletas do mundo inteiro. Ela aproveitou a estadia para competir na Copa do Mundo em Albstadt, na Alemanha, e de algumas outras provas. “Apesar das 

incertezas de me separar da minha família antes de viajar, valeu muito a pena”, avalia. “Eu vivi coisas lá que eu nunca ia viver aqui. O nível das competidoras é diferente, o clima é completamente diferente, porque ou faz muito calor ou faz muito frio. Mas a oportunidade de conhecer a Suíça me fez evoluir muito como atleta”, completa.

Ela poderia ter ficado mais tempo, porém decidiu voltar um pouco mais cedo para correr o campeonato brasileiro daquele ano. Com a preparação especial, o tetracampeonato brasileiro sub-23 veio em 2019. No ano seguinte, ela já passou a competir na elite, com adversárias mais experientes, mas mesmo assim, ficou em 4º lugar. Este ano, ela promete vir com tudo para brigar pela camisa com a bandeira brasileira no ano em que a abertura da Copa do Mundo de XCO será no Brasil. “Meu próximo objetivo é o brasileiro. Meu sonho é ganhar o brasileiro na elite”, revela.

Com a vitória na geral da CIMTB Michelin 2020 este ano, a moral de Karen com certeza estará alta para as competições de 2021. Além disso, durante a pandemia, ela se mudou de cidade e abriu uma loja de bicicletas com o namorado, o que reforça a solidez e o foco emocional da atleta. “A pandemia foi uma oportunidade para a gente investir no nosso futuro. Eu continuei treinando muito firme. Eu sabia que tinha que continuar para estar preparada para quando as competições voltassem”, conta.