Cyclocross: entenda o equipamento e o treinamento da modalidade

Desafio Audax Cyclocross acontece na CIMTB Levorin entre os dias 8 e 10 de junho. Cyclocross mistura dois mundos: o Speed e o MTB

Geometria de CX reúne dois mundo: mtb e speed (Foto: Audax Bike / Divulgação)

Este ano, a CIMTB Levorin iniciou com mais uma opção, o Desafio Audax Cyclocross (CX) que vai acontecer em Ouro Preto, no domingo às 11h. A modalidade vem crescendo no Brasil e existem muitas dúvidas neste universo que mistura dois mundos: o Speed e o MTB. Em entrevista, o engenheiro responsável pelo Desenvolvimento de Produtos da Audax, Luiz Kuhlmann, comentou que apesar da bike CX se parecer uma Speed, existem muitas diferenças, mas a CX reúne o melhor dos dois mundos, sendo uma ótima bike para quem precisa de versatilidade.

O engenheiro comentou que apesar da semelhança visual com uma bike Speed, as diferenças em relação à CX incluem pneus, quadros, freios e transmissão. “Os pneus da CX tem cravos e são maiores que os de Road. Os quadros tem uma geometria relaxada e mais ‘quadrada’ e há a necessidade de se deixar espaço dentro do triângulo dianteiro para que ela seja carregada nos ombros, por isso o tubo superior fica mais alto do que em uma Road com o mesmo comprimento de tubo superior. Além disso, o movimento central da CX é mais alto para facilitar a transposição de obstáculos e os freios são à disco ou Cantilever (para evitar o acúmulo de barro), os da Road são do tipo Side Pull ou à disco. A transmissão é mais leve, mas não apta para longas escaladas como em algumas Road”, explicou.

O percurso de Cyclocross tem vários obstáculos e, de acordo com Kuhlmann o peso varia de acordo com o material. Segundo ele, pode variar entre 8 kg (carbono) e 11 kg (alumínio). O engenheiro também esclareceu que “a geometria da CX e da MTB são muito diferentes, mas uma CX reúne o melhor dos dois mundos”, disse.

O engenheiro comentou ainda sobre as tradicionais competições de CX, mais populares na Europa. “Por ser uma modalidade em que as competições acontecem em circuito fechado, menores que os de MTB, as baterias não passam de uma hora e é muito fácil organizar corridas e torneios. Os eventos são uma grande festa, com tendas de bebida e comida, exposição de produtos, etc. Então quem não está competindo tem opções de diversão e lazer. Os atletas podem levar os familiares que vão estar bem próximos do circuito para torcer e incentivar. Por isso o Cyclocross tem um grande número de adeptos na Europa e está crescendo muito nos EUA”, finalizou.

Prova é curta e explosiva (Foto: Thiago Lemos / CIMTB Levorin)

Treinamento
O treinador de um dos atletas Audax FSA, Thiago Faria dos Santos contou em entrevista um pouco do preparo para esta modalidade. Treinador e Preparador Físico da TreineBr.com.br falou das particularidades do treinamento e como a modalidade para agregar para os praticantes de mountain bike. Confira abaixo:

– Quais as particularidades de um treinamento de CX?
Apesar do Cyclocross ter surgido do ciclismo de estrada, principalmente no gelado inverno europeu, as diferenças entre as duas modalidades são muito grandes. Podemos citar como as principais diferenças o tempo de duração das provas, tipo de esforço, tipo de terreno e obstáculos presentes no percurso, o que exige do atleta características físicas e técnicas bem especificas.

O tempo mais curto de prova e intensidade muito elevado do esforço, exige que o atleta seja mais potente e tenha uma maior tolerância à acidose metabólica gerada pela maior utilização do metabolismo anaeróbio láctico, ou seja, o atleta precisa suportar as pernas “queimarem” por mais tempo, sem “travar”.

Do ponto de vista técnico, as provas de Cyclocross costumam ter grandes escadarias, com degraus espaçados, troncos, ou grandes obstáculos, sendo impossível transpor sem que o atleta desça da sua bicicleta. Com isso, é muito comum os atletas terem de correr a pé empurrando a bike, ou carregando a mesma nos ombro, além de ter de subir e descer várias vezes, sendo necessários que essa habilidade seja muito bem treinada pelo atleta.

Além dos obstáculos citados acima, o terreno costuma ter muita lama, areia e subidas com grau de inclinação muito elevados, sendo também de grande dificuldade para que o atleta transponha sem precisar descer da sua bike. O que exige mais uma vez que o atleta tenha uma boa habilidade de descer, corre e subir na bike de volta.

Atleta deve ter precisão ao subir e descer da bike (Foto: Thiago Lemos / CIMTB Levorin)

– É diferente um treino CX e mountain bike? Explique.
Temos algumas semelhanças entre o MTB e o Cyclocross, mais semelhanças do que com o ciclismo de estrada, porém acredito que as diferenças ainda são muito grandes.

Como já comentado anteriormente, o tempo de prova é bem menor, e a intensidade muito elevada o tempo todo, isso faz com que a necessidade do metabolismo anaeróbio lático e aláticos sejam muito bem desenvolvidas. Mesmo sabendo que essas vias metabólicas são também importantes no MTB XCO, no Cyclocross elas são ainda mais importantes. Treinos intervalados de curta duração e também com recuperação curtas, são muito fundamentais para evolução do desempenho nessa modalidade.

Como grande parte do percurso o atleta passa empurrando a bike, ou carregando-a nos ombros, treinar corrida a pé, transportando a bike, deve estar presente no dia-a-dia de treinos desse atleta, assim com a corrida em escadas, e morro de grau de inclinação muito elevado. No MTB, é possível que, dependendo do tipo de percurso que o atleta enfrentará, trabalhar a corrida a pé e também transportando a bike é importante, porém muito menos importante do que no Cyclocross.

Os treinos de reforço muscular também diferenciam muito do MTB, no Cyclocross, por ter uma boa parte de prova onde o atleta corre, é importante reforçar de forma especifica a musculatura envolvida na corrida. Um ponto importante do reforço muscular para corrida é trabalhar a contração de alguns músculos excêntrica (fase de descida no agachamento por exemplo, é um momento onde  a contração é predominantemente excêntrica), como tibial-anterior, quadríceps e ísquios-tibiais. Treinamento como saltos pliométricos, são excelentes para isso. No MTB, maior parte da força gerada pelo atleta, se não toda ela, vem da concentração concêntrica desses músculos, ou seja apesar dos mesmos músculos estarem envolvidos no movimento, o tipo de contração em cada uma das modalidades é diferente.

– Porque o Cyclocross pode ser um complemento para o treino de mountain bike e vice-versa?
Visto as diferenças citadas acima, o uso do Cyclocross como treinamento para o MTB, deve ser usado com certa cautela, assim com o treinamento de MTB visando benefícios para o Cyclocross também. A utilização de um com o objetivo de ajudar o outro, desrespeita o princípio da ESPECIFICIDADE DO TREINAMENTO, o que é muito importante, principalmente para atletas de alto rendimento. No entanto em período de meio ou final de base, o Cyclocross pode ser usado para os atletas de MTB, visando variar um pouco a pratica, se tornado algo que possa motivar o atleta. Já o MTB pode ser usado no treinamento do Cyclocross, no início, até meio de base, a fim de aumentar as resistência e capacidade aeróbia do atleta.

No caso de atletas amadores, ambas modalidades podem ajudar uma a outra, pois o efeito da falta de especificidade no treinamento é menor, sendo assim o uso de uma modalidade para melhorar a outra pode ser usada com mais frequência.

CIMTB Levorin
A CIMTB Levorin conta pontos para o ranking mundial, da União Ciclística Internacional (UCI), fazendo parte do ciclo Olímpico Tóquio 2020, ranking Brasileiro e Mineiro.

Copa Internacional de Mountain Bike comemora a 23ª Edição em 2018. O evento tem patrocínio da Levorin, o pneu oficial da competição, e Co-Patrocinio da Sense Bike e Audax.

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