Ivanir deixou o pedal após fraturar a coluna em um acidente doméstico. Ele está inscrito na categoria Dupla Over 81 para etapa de Congonhas
Voltar às pistas de mountain bike para Ivanir Teixeira, o Milk Boy, é trazer uma parcela importante da história do Mountain Bike brasileiro de volta. Aos 46 anos, Ivanir irá reestrear nos pedais em Congonhas após quase nove anos sem competir devido a um acidente. Com uma Olimpíada e diversos mundiais no currículo, o Milk-Boy pedalará na categoria Dupla Over-81 ao lado do amigo e apoiador Alexandre Soro, no domingo (25). O evento acontece entre os dias 24 e 25 de novembro e está com as inscrições abertas.
Em entrevista, Milk Boy contou que um acidente doméstico o fez deixar os pedais no final de 2009. “Estava fazendo uma varanda no sítio da minha mãe, a madeira quebrou e cai em pé de um telhado de cerca de três metros. Fraturei a coluna, o médico mesmo chegou a falar que eu usaria cadeira de rodas e pensei que nunca mais subiria em uma bicicleta”, contou.
Não pedalar mais seria algo forte para o Milk-Boy, que teve a infância em cima da bike. Filho de fazendeiros criadores de gado de leite, Ivanir entregava o leite, que gerava a renda da família, de bicicleta ainda quando tinha cerca de 12 anos. Sem saber que tanto o leite quanto a bicicleta jamais o deixaria de lado.
“Eu entregava leite nas vilas das universidade e fui pegando o jeito com a bicicleta. As pessoas começaram a me chamar de leiteiro e um dia, um patrão meu me chamou de Milk boy e o apelido pegou. Porém, o mountain bike entrou na minha vida quando eu fui para o Exército. Eu queria servir ao Exército para deixar o serviço da roça. Quando fui fazer o teste de corrida, o Sargento me disse que eu tinha perfil para esporte. Assim, comecei a usar a bicicleta do meu irmão, até que surgiu uma competição e eu fiquei em segundo lugar em 92”, lembrou.
A primeiro prova válida pela Federação foi no mesmo ano, o Campeonato Mineiro. Milk Boy ganhou a competição porém, sem ser federado, não pôde receber o prêmio. Mesmo assim, o resultado chamou a atenção do chefe da equipe do primeiro colocado. Eduardo Profeto o convidou para compor a equipe no ano seguinte.
“Tudo aconteceu naturalmente. Em 93, estava no Campeonato Carioca no qual tinha uma etapa em Juiz de Fora e o Eduardo não conseguiu chegar a tempo. Um chefe da equipe da KHS ofereceu para que eu pudesse aquecer em uma das bikes dele, e eu aceitei. Quando o Eduardo chegou eu já estava alinhado com uma KHS e corri com ela mesma. Assim, eu entrei para a equipe KHS”, contou.
Depois disso, a história do Milk Boy foi tomando novos rumos. Ele saiu de Minas Gerais, mudou-se para o Rio de Janeiro. Correu o Campeonato Interestadual, o Paulista, foi campeão em quatro etapas do Campeonato Brasileiro de Cross Country, correu o Campeonato Latino Americano e ainda assim, ainda não tinha passado pela cabeça dele uma Olímpiada.
“Na época, o Ravelli sempre ganhava o geral do Brasileiro e eu era vice. Fomos competindo até chegar no mundial da Alemanha, que seria seletivo para Atlanta 1996. Foram duas vagas para o Brasil nos Jogos Olímpicos e fomos eu e Ravelli”, lembrou.
De entrega de leite de bicicleta à atleta Olímpico. Para Ivanir, a ficha só caiu quando se alinhou para largar em Atlanta. “Aquilo era um sonho. Até a gente estar lá, a gente não acredita. O trabalho é duro, a rotina de treino é pesada e eu vivia pela bicicleta. Se não estava em cima dela, estava treinando e me alimentado para estar em cima dela com uma performance melhor. Os Jogos Olímpicos é algo de outro mundo. Lá, estão os melhores e cada um representando o seu país. E naquela época, o mtb brasileiro não era forte como é hoje, era um esporte ainda longe da população”, disse.
É com esta bagagem que Ivanir Teixeira, o Milk Boy vai subir na bicicleta na última etapa da CIMTB Levorin, em Congonhas. Uma criança que entregava o leite em cima de uma bicicleta para os pais chegou a representar o Brasil no mountain bike nos Jogos Olímpicos de 1996 e pensou que nunca mais subiria em cima de bicicleta. “Está parecendo que estou indo para a minha primeira prova. Estou ansioso mas quero viver essa adrenalina de pedalar de novo. Acima de tudo, minha maior satisfação é estar pedalando, estar em cima de uma bicicleta”, finalizou.
Ivanir deixou o trabalho do campo, mas continua trabalhando em uma empresa de laticínios e voltou a treinar o mountain bike.
CIMTB Levorin 2018
A CIMTB Levorin conta pontos para o ranking mundial, da União Ciclística Internacional (UCI), fazendo parte do ciclo Olímpico Tóquio 2020, ranking Brasileiro e Mineiro.
Copa Internacional de Mountain Bike comemora a 23ª Edição em 2018. O evento tem patrocínio da Levorin, o pneu oficial da competição, e Co-Patrocinio da Sense Bike e Audax.
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